ilustração + bordado + texto sobre o tema economia do cuidado
projeto, bordado e edição digital:
economia do cuidado
As verdadeiras mãos invisíveis ao mercado
Um conceito econômico primordial deriva de citações feitas por Adam Smith em seu livro A Riqueza das Nações, de 1776. O autor evoca o movimento de mãos invisíveis para exemplificar como uma economia livre de intervenções governamentais é capaz de se regular. Discussões recentes apontam um novo tema que merece atenção, estudo e ação, assim como ser acrescentado ao repertório de conceitos fundamentais: a economia do cuidado.
Muito além de um par de mãos incorpóreas, nossa economia é moldada, sustentada e intrinsecamente ligada a um número incontável de mãos de carne e osso, responsáveis por todas as atividades que envolvem o cuidar. São atribuições com pouca ou nenhuma remuneração, cuja existência é desvalorizada, mas sua ocasional ausência é notória e deixa marcas profundas em indivíduos e comunidades.
Estas mãos são invisibilizadas em conjunto com o trabalho que executam. São as mãos que mais cuidam de outros indivíduos que, por sua idade (pouca ou avançada) ou por questões de saúde precisam de acompanhamento constante. São as mãos que passam mais horas em serviços domésticos de todos os tipos. Mãos prontas para limpar, organizar, alimentar, confortar. Mãos que tendem a ter gênero, cor e condições sociais específicas, regularmente menosprezadas, e cujas cabeças que as controlam estão cansadas, sobrecarregadas por uma carga mental interminável.
O tempo de dedicação não é apenas uma soma de horas. É uma subtração de disponibilidade e disposição para outros sonhos, objetivos e crescimento. Uma condição simultânea e, talvez, criadora dos ciclos paralelos de vantagens e desvantagens tão evidentes na sociedade.
A mão invisível da economia é conhecida como lei da oferta e da procura, em que estes fatores regulam os preços de produtos e serviços disponíveis no mercado. Para as mãos invisibilizadas na economia do cuidado não há um movimento automático: ainda falta ação para se conhecer ou criar os fatores capazes de regular os valores (monetários e de reconhecimento) atribuídos a estas funções essenciais, tornando-as visíveis e um pouco mais justas.
(agosto 2021)